Você sabe qual é a relação do tempo com a memória? Por que lembramos de certos momentos com tanta clareza e outros parecem desaparecer? E por que, às vezes, aquilo que lembramos não corresponde exatamente ao que aconteceu?
O tempo, ao contrário do que muitos pensam, afasta as lembranças, ou seja, ele as modifica. Com o passar dos anos, a memória se reorganiza, muda de foco, apaga detalhes e intensifica alguns pontos. Por isso, entender essa relação entre tempo e memória é um passo importante para compreender como lidamos com a vida, com o passado e com tudo aquilo que nos marca.
O que a neurociência diz sobre a transformação da memória ao longo do tempo
Ao contrário do que pode parecer para a maioria das pessoas, a memória não é algo imutável, isso significa que uma lembrança que é acessada no cérebro reativa certos circuitos neurais, e o processo de reativação tem a capacidade de mudar o conteúdo original. Isso é conhecido como reconsolidação da memória, um fenômeno amplamente estudado pela neurociência.
Os pesquisadores da UFMG, publicaram um artigo científico demonstrando que toda vez que uma lembrança é reativada, ela se torna temporariamente instável e pode ser alterada por novas informações ou por interpretações que o próprio cérebro projeta. Em outras palavras: o tempo, além de nos fazer esquecer, muda o que lembramos.
Algumas pesquisas com imagens cerebrais demonstram que as memórias antigas são armazenadas em nosso cérebro de maneira diferente das memórias recentes. O hipocampo, região do cérebro associada à memória episódica, perde protagonismo com o tempo, enquanto o córtex pré-frontal assume o papel de manter o que restou da lembrança, muitas vezes de forma mais genérica e emocional do que precisa (Frankland & Bontempi, Nature Reviews Neuroscience, 2005).
A passagem do tempo muda a forma como percebemos o passado
Com o passar dos anos, o cérebro tende a registrar menos eventos novos, ou seja, os fatos novos que acontecem, organizam novamente a percepção do tempo. Por esse motivo se os dias são repetitivos, as memórias se comprimem, e há uma sensação de que o tempo “acelerou”.
Os pesquisadores do Instituto Max Planck demonstraram que a percepção da duração de um evento está ligada à quantidade de memória que ele gera. Logo, se algo foi marcante, o tempo parece ter “demorado a passar”. Por outro lado, se foi automático, rotineiro, quase não deixa rastros. A diferença de densidade explica por que lembranças da infância parecem mais longas e detalhadas do que as da vida adulta, mesmo que tenham durado menos.
Outro fator que contribui para essa mudança é biológico: a produção de dopamina, neurotransmissor relacionado à motivação e à percepção temporal, tende a diminuir com o envelhecimento. Isso altera a forma como sentimos o tempo e influencia diretamente a consolidação das lembranças.
O tempo também reconfigura o sentido das memórias
A memória é, acima de tudo, interpretativa. E essa interpretação muda. Um mesmo episódio pode adquirir novos significados conforme vivemos outras experiências, especialmente as que envolvem perda, reencontro ou mudança de papéis.
As lembranças difíceis podem se tornar suportáveis com o tempo, não porque foram apagadas, mas porque foram reorganizadas dentro de nós. O tempo não tem o poder de curar tudo, mas dá espaço para que a memória se acomode de outro jeito. Às vezes, mais silenciosa. Outras vezes, mais clara do que antes.
Por esta razão, é importante entender que a memória muda constantemente, isso é essencial para lidar com processos difíceis como o luto, por exemplo. Muitas vezes, as pessoas que estão sofrendo se questionam sobre a nitidez de suas lembranças ou se culpam por esquecer detalhes. Mas é preciso entender que esquecer não é falhar. É da natureza do cérebro selecionar, proteger e adaptar o que permanece.
O tempo altera a forma como olhamos para o que ficou. E essa transformação não diminui o valor do que foi vivido apenas o reposiciona.
Conclusão
Agora que você entendeu melhor qual a relação do tempo com a memória, perceba também que as memórias que acolhemos e compartilhamos não são imutáveis, mas caminhos em construção. O Memorial Parque Jaraguá oferece um lugar acolhedor para quem percorre o caminho de construir memórias felizes de seus entes queridos, mas com seu olhar no presente, e ao fazer isso, o tempo deixa de ser um inimigo do lembrar e tudo passa a ter um novo significado no momento presente.
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